SERTANEJOS MONUMENTAIS
SERTANEJOS MONUMENTAIS
RACHEL DE QUEIROZ
Rachel de Queiroz foi uma das maiores escritoras do Brasil e a primeira mulher a entrar na Academia Brasileira de Letras, em 1977. Nasceu em Fortaleza, Ceará, em 1910, mas passou boa parte da infância no sertão, especialmente em Quixadá, experiência que influenciou profundamente sua obra.
Seu primeiro romance, O Quinze (1930), escrito aos 20 anos, tornou-se um clássico por retratar com realismo a grande seca de 1915 e o sofrimento do povo sertanejo. Através de personagens como Conceição e Vicente, Rachel deu voz à resistência nordestina diante da miséria e das adversidades climáticas.
Além de romancista, foi cronista, dramaturga e tradutora. Outras obras de destaque incluem João Miguel, Caminho de Pedras, As Três Marias e Dôra, Doralina. Seu estilo direto e humano revelou com sensibilidade a vida cotidiana e os dilemas sociais do Brasil.
Rachel não apenas escreveu sobre o sertão, ela viveu esse universo. Sua obra transformou o Nordeste em literatura universal, sem idealizações, mas com profundo respeito e realismo.
ANTÔNIO CONSELHEIRO
Antônio Vicente Mendes Maciel, o Antônio Conselheiro, nasceu em 1830, em Quixeramobim, no sertão do Ceará. Após uma juventude difícil, tornou-se um peregrino religioso, andando pelo Nordeste e pregando contra a miséria, os abusos do Estado e a desigualdade social. Ganhou fama como líder espiritual entre os pobres sertanejos, que viam nele uma figura santa.
Em Canudos, no sertão da Bahia, fundou uma comunidade com milhares de seguidores, baseada em fé, trabalho coletivo e rejeição à República e aos impostos. O povoado cresceu e passou a ser visto como ameaça pelo governo, o que resultou na Guerra de Canudos (1896–1897), um massacre que terminou com a destruição do arraial e a morte de Antônio Conselheiro.
Mesmo sem deixar obras escritas, sua história foi imortalizada por Euclides da Cunha em Os Sertões (1902), que revelou o contraste entre o Brasil oficial e o sertão real.
Sua origem cearense foi decisiva: no sertão, ele conheceu a seca, a fé popular e a desigualdade, elementos que moldaram sua missão. Antônio Conselheiro é lembrado como símbolo de resistência e voz dos esquecidos do Nordeste.
CEGO ADERALDO
Cego Aderaldo, nascido Aderaldo Ferreira de Araújo em 1878, no Crato (CE), foi um dos maiores repentistas e cordelistas do Brasil. Ficou cego aos 18 anos, mas isso não o impediu de se tornar uma das vozes mais marcantes da cultura popular nordestina. Com sua viola e talento para o improviso, encantava plateias com desafios poéticos e histórias rimadas.
Sua obra ajudou a consolidar o cordel e o repente como expressões legítimas da alma do povo sertanejo. Entre seus folhetos mais famosos estão A Peleja de Cego Aderaldo com Zé Pretinho dos Tucuns, transcrita pelo cordelista Firmino Teixeira do Amaral, e sua autobiografia Cantadores, Violeiros e Poetas Populares do Nordeste.
Profundamente ligado ao sertão cearense, Cego Aderaldo transformou em poesia a paisagem árida, o sofrimento e a resistência do povo nordestino. Morreu em 1967, mas sua arte ainda ecoa como símbolo da tradição oral do Nordeste e da força da cultura popular brasileira.