GEOLOGIA
GEOLOGIA
INTERPRETAÇÕES E EVOLUÇÃO DO CONHECIMENTO:
Na Província Borborema, um extenso mostruário da evolução proterozoica do Gondwana Ocidental, dois importantes corpos graníticos (batólitos Quixadá e Quixeramobim) com ascensão controlada pela Zona de Cisalhamento de Senador Pompeu, que é um importante marcador da reconstrução pré-deriva do Gondwana (Ávila et al, 2019), são responsáveis pela elaboração do maior e mais diversificado campo de inselbergs em rochas graníticas ediacaranas do mundo, com mais de 120 inselbergs distribuídos em 90km de extensão. Dentro dos dois batólitos, a intensa mistura de magmas foi responsável por gerar uma grande diversidade litogeoquímica (Almeida, 1995) variando desde litotipos mais ácidos a mais básicos em diversas escalas, com destaque para a série alcalina de alto potássio. Sete fácies graníticas são conhecidas (Almeida et al, 2007). Esta variedade química de rochas responde diretamente as variações climáticas no quaternário, gerando uma grande variedade de erosões diferenciais, com destaque para a erosão diferencial entre os granitoides e a encaixante (litotipos orto e paraderivados arqueanos e paleoproterozóicos) gerando uma grande variedade de tipologias de inselbergs que Maia et al, (2015) individualizou em inselbergs do tipo I (Dissolução), II (Fraturamento) e III (Dômicos). Como também, a resposta do intemperismo a diferenciação litogeoquimica dentro dos corpos graníticos, gerando uma grande variedade de feições geomorfológicas de menor escala (dentre elas: Tafoni, gnammas, bolders, flared slops, raros arcos graníticos e raras cavernas em granitos, etc...), feições muito bem retratadas em Quixadá por Maia et al., (2015), Maia et al 2018 e em Quixeramobim por Freitas et al (2019) e Freitas et al (2021). Além disso, alguns autores têm associado parte da esculturação dessas geoformas ao modelo de etchplanação (Maia et al., 2015; 2018).
CONTEXTO GEOLÓGICO REGIONAL E LOCAL:
A Província Borborema (ALMEIDA et al., 1981) foi construída durante a orogenia Brasiliano/Pan-Africana, como resultado da convergência e colisão final dos Crátons São Luís–África Ocidental e São Francisco-Congo, em um contexto da fusão do Gondwana Ocidental (ARTHOUD et al, 2008). Possuindo um dos maiores e mais bem expostos sistemas de zonas de cisalhamento intracontinentais do mundo, com mais de 250.000 km2 (NEVES et al., 2021).
Esta província é subdividida em nove domínios tectono estruturais (PINÉO et al., 2021), dos quais merece destaque aqui o Domínio Ceará Central (DCC), onde estão os batólitos Quixadá e Quixeramobim. Este domínio é limitado por duas grandes estruturas, o lineamento transbrasiliano (a oeste) e a Zona de Cizalhamento de Senador Pompeu (ZCSP, a leste).
Em uma reconstrução pré-deriva a província está correlacionada com os cinturões pan-africanos da África Ocidental, com os Lineamentos Senador Pompeu e Transbrasiliano sendo conectados aos lineamentos Ilesha-Ifewara (Ile-Ife) e Kandi, respectivamente (Archanjo et al., 2013). Nesta reconstrução pré-deriva do Gondwana, o ZCSP é aproximadamente contínua com a zona de cisalhamento Ilesha-Ifewara do sudoeste da Nigéria (ARCHANJO et al., 2013; CABY & BOESSÉ, 2001), demonstrando um importante papel desta zona na montagem Neoproterozóica do Gondwana (ÁVILA et al., 2019).
Os inselbergs do território do Sertão Monumental ocorrem em dois corpos plutônicos pertencentes à Suíte Intrusiva Itaporanga (PINÉO et al., 2021), uma unidade geológica que engloba vários corpos graníticos neoproterozoicos do estado do Ceará. O primeiro é o Plúton Quixadá (Suíte Quixadá de ALMEIDA et al., 2007) que é constituído por uma suíte monzonítica, composta por dioritos, monzonitos (dominantes) e sienitos, todos porfiríticos, com megacristais de plagioclásio e feldspatos potássicos imersos em uma matriz de cor preta esverdeada de granulação média a grossa, composta essencialmente por anfibólios e biotitas (ALMEIDA, 1995), com idades entre 560 a 585 Ma. Neste plúton, parece não haver a participação de magmas crustais (ALMEIDA et al., 2007; ALMEIDA; ULBRICH; MCREATH, 1999) e, possivelmente, com contribuição mantélica (NOGUEIRA, 2004). Mais ao sul, ocorre o batólito Quixeramobim (Supersuíte rio Quixeramobim de ALMEIDA et al., 2007; PARENTE et al., 2008) que é formado por monzonitos, quartzo monzonitos e granitos porfiríticos com 587 Ma (PINÉO et al., 2021). A maior complexidade desse corpo levou a proposição da elevação à supersuíte sendo constituído, segundo Almeida et al. (2007), por seis grandes suítes: Muxuré Novo, Muxuré Velho, Água Doce, Serra Branca, Uruquê e Boa Fé, ocorrendo ainda os Mobilizados Tardios e Uruquê Transicional Muxuré Novo (variações laterais das suítes Uruquê e Muxuré Novo). As suítes Muxuré Novo, Serra Branca e Boa Fé são séries cálcio-alcalina de médio potássio, compostas por quartzo-dioritos, tonalitos, granodioritos (dominantes) e monzogranitos biotita e anfibólio. Elas são diferenciadas por seu padrão textural porfirítico, com a Serra Branca apresentando fenocristais de feldspatos variando de 6 a 20 cm; a Muxuré Novo com fenocristais variando de 6 a 2 cm, e; a Boa Fé exibindo fenocristais aproximadamente equidimensionais em torno de 2,5 cm (ALMEIDA, 1995). Os corpos Quixadá e Quixeramobim estão orientados no sentido NE/SW, o que denuncia os esforços distensivos associados às zonas de cisalhamento de Senador Pompeu (ZCSP) e Quixeramobim (ZCQ) no alojamento dos plútons. Segundo Almeida (1995), o Batólito Quixeramobim ascendeu por meio de fraturas distencionais geradas durante o movimento sinistral da ZCSP. Posteriormente, uma inversão dos movimentos da ZCSP foi responsável pela abertura de fraturas distencionais, por onde ascenderam os magmas Quixadá. Além disso, a ocorrência universal de enclaves microgranulares e diques sin-plutônicos descontínuos sugere que o mecanismo de mistura de magmas foi de primordial importância para geração destes corpos (ALMEIDA et al., 2007; ALMEIDA; ULBRICH; MCREATH, 1999).