PALEONTOLOGIA
PALEONTOLOGIA
Potencial Paleontológico da Área do Geoparque Sertão Monumental:
A região do Sertão Central do Estado do Ceará, onde está sendo proposto o presente geoparque, é uma área que historicamente tem muitos registros de descobertas de fósseis de mamíferos gigantes, conhecidos como megafauna extinta, que viveram no Período geológico Pleistoceno, sendo extintos há cerca de 10.000 anos antes do presente. Ximenes (1995) cita essa região como uma das duas maiores áreas de maior concentração de jazigos fossilíferos de megafauna em território cearense, destacando em primeiro lugar os municípios de Quixadá e Quixeramobim. Esses fósseis ocorrem em um contexto geológico muito peculiar, ou seja, ambientes de sedimentação de idade quaternária instalados sobre um substrato de rochas graníticas do batólito Quixadá-Quixeramobim, de idade pré-cambriana. Os principais componentes geomorfológicos desses ambientes sedimentares são os tanques naturais, depressões fundas de tamanhos variados, formadas na rocha granítica, contendo sedimentos colúvioeluviais, e as lagoas, corpos hídricos de médias dimensões, com sedimentação predominantemente lacustre. Esses ambientes são bem pontuais, não formando continuidade lateral, constituindo-se assim em jazigos fossilíferos isolados, porém dispersos em todo o perímetro definido pelo batólito. As ocorrências de fósseis da megafauna pleistocênica nos municípios de Quixadá e Quixeramobim são conhecidas desde o século XIX. Brasil (1863) registra: “Tem-se encontrado em várias escavações por toda a provincia grandes ossadas de animaes antediluvianos, Mamouth, Mastadonte, Magatherios, e outras raças extinctas”. A maior parte das descobertas na região do Sertão Central do Ceará, porém, foram feitas ao longo de todo o século XX. Brasil (1909) registra: “O Dr. Marcos de Macedo remetteo para o museu nacional (do Rio) vários caixões de ossos. O Sr. J. J. Revy, quando diretor do serviço de construção do açude de Quixadá, enviou também alguns caixões com ossadas gigantescas para dito museu de uma escavação proxima a Quixadá”. Branner (1915) cita que nas coleções do Serviço Geológico, no Rio de Janeiro, encontra-se uma amostra de gliptodonte da espécie Panochthus tuberculatus Owen, 1845, proveniente de Quixeramobim. Moraes (1924) faz referência também à remessa de ossos ao Museu Nacional de perto de Quixadá, alguns caixões remetidos pelo engenheiro Jules Révy, citado anteriormente (BRASIL, 1909), além de registrar que nas coleções do Serviço Geológico e Mineralógico do Brasil há uma parte de esqueleto de um Panochthus tuberculatus Owen, 1845 achado em Quixeramobim. 24 Pompeu-Sobrinho (1941), ao listar a distribuição dos achados de fósseis em algumas localidades do Estado do Ceará, registra ocorrências em Quixadá, dentro de um tanque no sopé do serrote do Cemitério, e no lugar Boa Água, também em um tanque aberto num lajedo quase à flor do solo, além de outra em Quixeramobim. Outros trabalhos que apresentam listas de ocorrências de fósseis de mamíferos no Ceará, com citações de descobertas em Quixadá e Quixeramobim são: Brasil (1922), Alvim (1939) e Oliveira e Leonardos (1943). Na atualidade, os fósseis de megafauna de Quixadá e Quixeramobim começaram a ser estudados mais sistematicamente nos últimos 25 anos, com prospecções de jazigos fossilíferos e resgates de fósseis descobertos eventualmente por moradores rurais da região (XIMENES, 2006). Considerando todos esses registros históricos na literatura científica, que já vinham sendo citados em vários levantamentos de ocorrências de fósseis, na forma de listas, somados aos registros mais recentes, essa área do Sertão Central do Ceará se destaca nas composições cartográficas sobre a megafauna pleistocênica brasileira, como, por exemplo, em Ximenes (1995), que ilustra a distribuição conhecida da megafauna no Estado do Ceará, e em Viana et al. (2007), ao consolidarem um mapa paleontológico preliminar das ocorrências de megafauna na Região Nordeste do Brasil. Assim, são conhecidas as seguintes localidades com ocorrências fossilíferas: a) Quixadá: Fazenda Jerusalém, Fazenda do Serrote, Boa Água e Serrote do Cemitério; b) Quixeramobim: Uruquê, Lagoa das Pedras, Fazenda Tingui e Lagoa do Fofô. Essa lista é muito maior, considerando que se desconhece a localização exata de alguns achados relatados na bibliografia histórica, além do alto potencial para novas descobertas. A paleofauna registrada até o momento é composta pelos seguintes animais já identificados a partir de fósseis coletados (Figura 01): a) A Preguiça-gigante Eremotherium laurillardi (Lund, 1842), maior componente faunístico da megafauna, que chegava a 6 m de comprimento e a pesar até 5 ton.; b) O Gliptodonte Panochthus greslebini (Castellanos 1941), animal encouraçado parente dos atuais tatus, da dimensão de um automóvel Fusca; c) O Mastodonte Notiomastodon platensis (Ameghino, 1888), animal parente dos atuais elefantes e de mesma dimensão e d) O Toxodonte, Família Toxodontidae Indet., animal de hábitos anfíbios, muito semelhante a um hipopótamo em forma e dimensões. Há muitos fósseis ainda não identificados, que podem aumentar em muito essa lista de animais pré-históricos.
Autor: Celso Lira Ximenes
Figura 01 – Estágio atual da Paleofauna do Sertão Monumental. A) A Preguiça-gigante Eremotherium laurillardi; b) Gliptodonte Panochthus greslebini; C) Mastodonte Notiomastodon platensis e D) Toxodonte. Fonte: Modificado de Ximenes, 2009.